quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

V Encontro de Folia de Reis de São Bernardo do Campo



No dia 04 de janeiro de 2015 aconteceu o V Encontro de Folia de Reis de São Bernardo do Campo. Desta vez, o encontro foi realizado na Igreja Matriz da cidade. Compareceram as seguintes folias: Companhia Estrela do Oriente, de São José dos Campos; Folia de Reis de Itaú de Minas; Folia São Francisco de Assis, da cidade de Santo André e duas folias da cidade de São Bernardo: Folia de Reis Baeta Neves e Folia de Reis do Divinéia.

As folias fizeram uma fila para entrada uma a uma na igreja e somente as folias convidadas de outras cidades tocaram uma louvação. A Folia de Reis do Divinéia trouxe presentes para o presépio, representando o incenso, o ouro e a mirra dados ao menino Jesus pelos reis magos. A missa foi realizada com a presença dos grupos, após o término as folias saíram da igreja, fizeram um cortejo por ruas do entorno e retornaram à Praça Matriz para louvação ao presépio e para se apresentarem no palco montado no local.

Nem a chuva espantou os foliões e o público, que buscaram locais para se proteger ou ficaram com os guarda-chuvas abertos, mas sem perder o pique e a fé. Cada grupo cantou cerca de 3 canções, somente no último grupo, que foi a Folia de Reis Baeta Neves, a chuva deu uma trégua. Muita gente se emocionou, carregou a bandeira por um momento ou a beijou. Há um lendário popular que diz que dá sorte pegar a bandeira da Folia e passar no corpo para dar sorte. Apesar da cidade de São Bernardo do Campo ser uma grande metrópole, com cerca de 810 mil habitantes, muita gente gosta e aprecia as manifestações de cultura popular, como deu para notar durante a festa, onde havia pessoas idosas em maior quantidade, todavia havia também muitos jovens, ressaltando assim que a cultura popular pode existir em qualquer contexto, mesmo havendo em sua grande maioria surgido no meio rural. A Folia de Reis da cidade de Santo André apresenta uma grande quantidade de integrantes jovens, incluindo o embaixador (que é a pessoa responsável por puxar as canções). Outro fato interessante deste grupo foi a presença de uma mulher como Bastião (palhaço).


Foi um encontro de folia, fé, família, uma excelente maneira de saudar o novo ano e prestigiar a cultura do povo!





segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Festa da Saída - Folia de Reis Baeta Neves

Dia 20 de dezembro foi a festa da saída da Folia de Reis Baeta Neves. Neste ano infelizmente não houve a famosa festa de aniversário da companhia, pois não houve subsídio por parte da municipalidade. Todavia, alegria e emoção não faltaram neste início de trabalho do grupo. A festa foi na casa de uma família no Jardim Orquídeas, São Bernardo do Campo, família esta que possui tradição de Folia de Reis de muitas gerações, com seus membros sempre se revezando como festeiro. A família organizou toda casa para receber a Folia de Reis Baeta Neves com muito carinho e muita comida e bebida. A Festa da Saída se inicia com a reza do terço, após esta etapa é oferecida a comida e bebida a todos e após dá-se início à cantoria, com louvação ao presépio (no caso haver um), louvação aos donos da casa, a comida e bebida oferecida e a parte mais emocionante foi a louvação à bandeira, onde todos os participantes a beijam, inclusive os Bastião, que retiram a máscara para beija-la. Uma característica interessante é que dentro da casa os Bastião não dançam, somente soltam interjeições no final das frases, como forma de participar da cantoria.
Os cânticos são improvisados no momento, dentro de uma estrutura já existente e conhecida dos participantes, esta é uma característica marcante das Folias de Reis. Neste dia, seu Juarez, embaixador do grupo, ou seja, responsável por puxar as canções, criou versos do tipo:

Agradecendo o bom lanche e o bom café
A cerveja bem gelada
Também o refrigerante

e outros versos assim:

Vamos, vamos para bandeira
Por estradas viajadas
Passando de casa em casa
Seus devotos visitar

Vê-se claramente a relação entre o profano e o religioso, caminhando lado a lado. Foi uma festa de alegria, fé, reza, comes, bebes, encontros e emoção.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Gravação de canções da Congada do Parque São Bernardo

Na noite do dia 10 de dezembro, com uma brisa leve, depois de um dia quente, fomos novamente ao Estúdio Baeta para gravação de canções com a Congada do Parque São Bernardo. Foram ao todo nove integrantes, sendo 5 homens: Paulo, Zé Lemes, José Vitor, Gean e Daniel. As mulheres: Cléo, Deise, Janaína e Maria de Fátima, além de 3 meninas lindas, com idade entre 4 e 6 anos que já constituem a nova geração da congada. Primeiro foram gravados os instrumentos de percussão e cordas, para compor a base harmônica para a gravação vocal. Foram gravadas 02 lindas canções:

Primeira:

Eu sentei na praia formosa
Para ver os peixes nadar
Os peixes nadavam tanto
Balançavam as ondas do mar

É na Bahia terra brasileira
É na Bahia que tem baiana faceira

Segunda:

Pisa no chão moreninha
Pisa devagar
Seu sapato é branco
Moreninha
Pode empoeirar

Olha a saia de roda
Balança a saia morena
Olha a saia de roda


Hoje o grupo conta com 40 integrantes, sendo que a maioria pertence à família Lemes. As músicas farão parte do material do livro: O ABC na Cultura Popular, que será lançado no mês de maio/2015.

domingo, 23 de novembro de 2014

Vivência de Samba Lenço com Raquel Trindade

No dia 22 de novembro, fui à Embu das Artes, juntamente com o pessoal do curso sobre a história do Samba promovido pelo CPF (Centro de Pesquisa e Formação), pertencente ao SESC. Fomos a esta cidade para conhecer o Teatro Popular Solano Trindade, que é administrado pela família Trindade, na figura da matriarca Raquel Trindade, filha mais velha de Solano Trindade. Este recifense foi cineasta, poeta, folclorista, teatrólogo, ator, morreu na década de 70, mas deixou um legado artístico que perdura até os dias atuais. Dona Raquel Trindade, uma artista multifacetada, funda o teatro no ano de 1975 e também em Embu funda a Nação Kambinda de Maracatu. No ano de 1985 cria um curso de extensão sobre folclore, teatro negro e sincretismo religioso na UNICAMP. Hoje, com 78 anos, ainda ministra cursos, dança, pinta, enfim, faz muita coisa em prol da manutenção desta cultura negra e do legado familiar. Nos recebeu com muito amor, carinho e ternura para uma vivência de Samba Lenço Rural, como a mesma designou. Ela começou nos contando um pouco sobre a história do samba em São Paulo e que este samba lenço era muito característico dos negros que trabalhavam na lavoura, por isto a postura do corpo mais abaixada, o uso do lenço, pois as mulheres usavam o mesmo na cabeça para proteger-se do sol e um cantar forte, altivo, típico dos cantos de trabalho. Claro que foi muito divertido e que não conseguimos obter muito sucesso nesta empreitada, já que nascemos em uma outra realidade e não estávamos acostumados a tudo, mas foi incrível a troca de energia e alegria que foram despertados no ambiente. Depois, fomos a casa de dona Raquel, que queria nos mostrar alguns de seus desenhos, livros. Foi uma manhã inesquecível, e uma das canções cantadas durante a atividade chamou-me a atenção para a questão do quanto os negros eram perseguidos e resistiram bravamente e nos deleitam com manifestações belas de cultura popular. A letra da música é:

Dona Luzia é uma negra boa
Ela faz um samba
Lá na casa da patroa
Mas eu não vou neste samba com você
Por que?
Porque a polícia tá querendo me prender

Obrigada dona Raquel Trindade e a todo pessoal pela generosidade e carinho que nos receberam!







segunda-feira, 17 de novembro de 2014

História do Samba Paulista - Olga Rodrigues de Moraes Von Simson

Na quarta-feira, dia 12 de novembro, fui ao Centro de Pesquisa e Formação do SESC para assistir a interessante explanação da professora Olga Von Simson, socióloga e pesquisadora da história do samba paulista. Sua palestra trouxe elementos muito interessantes sobre esta história, dentre os quais a influência da dança dos caiapó, do cateretê, da catira e do jongo na constituição do samba paulista. A professora fez entrevista com vários "bambas" do samba, dentre os quais Dionísio Barbosa, Geraldo Filme visando fazer a reconstituição desta história. O carnaval paulista até a década de 1970 é marcado pelos cordões, com a instituição de regulamento ao carnaval paulistano, baseado no regulamento carioca, os cordões tiveram que se transformar em escolas de samba e perderam o elo com o samba vindo da zona rural, do Vale do Paraíba, os batuques de influência negra, a umbigada que era oriunda do "semba", dança tribal da região de Angola feita para homenagear a deusa da fertilidade, responsável por uma colheita farta e muitos filhos para ajudar nos trabalhos e nas guerras. As entrevistas realizadas para este trabalho estão disponível no MIS e no Centro de Memória da Unicamp.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Registros fonográficos com o Samba Lenço de Mauá

Sábado, dia 08 de novembro de 2014, eu e Amanda Martins, minha irmã de alma, cumprimos mais uma etapa de nosso trabalho: gravação em estúdio com o grupo Samba Lenço de Mauá.  Desta vez, tivemos a companhia mais que especial da professora Andrea Paula dos Santos, docente da Universidade Federal do Grande ABC, que está nos auxiliando grandemente nesta jornada pelo mundo da escrita. Nos encontramos na estação de trem Mauá e fomos rumo a casa de dona Ana Rosa (filha do seu João, um dos fundadores do grupo) para irmos juntos ao estúdio, em um ônibus fretado para o grupo. Chegando lá no Jardim Zaíra II, estava a dona da casa e a sobrinha Fabiana, também integrante do grupo, que carregou os instrumentos para o ônibus e saímos para o Jardim Zaíra VI para buscar o restante do pessoal que iria para o estúdio. Somente o pessoal que toca e também canta foi para a gravação, juntamente com a Claudete, a puxadora dos sambas. Todavia duas figuras importantes que não se encaixam neste perfil também foram: dona Ana Rosa e dona Braulina, que são integrantes muito antigas do grupo, pessoas de referência para o pessoal. Todo mundo no ônibus, rumamos para São Bernardo do Campo, para o estúdio Baeta. Chegando lá, já estava o seu Kinkas, membro do grupo e coordenador do mesmo. O pessoal retirou os instrumentos e a 7 léguas (tipo uma zabumba), a campanha e o manhoso (também instrumentos de percussão de pele) foram afinados do lado de fora, em um ritual que já vem desde os primórdios do grupo: aguardente é jogada sobre os instrumentos, na pele e nas laterais, para apertar aos poucos a pele. Cada instrumento representa um orixá, a bebida simboliza o oferecimento a este orixá.
Terminada esta etapa, entrada no aquário para gravação, ajusta microfone de voz, microfone de instrumento, todos muito ansiosos e até mesmo um pouco tensos com a situação, mas tudo correu muito bem, interessante notar que a puxadora, a Claudete, ao final da gravação disse que estava preocupada com a maneira de cantar, disse que tentou falar as palavras com o português mais correto possível para que as pessoas possam entender as canções. Achei muito generosa esta preocupação, aliás todos os participantes foram extremamente generosos em compartilhar um pouco destas canções, desta arte tão linda, que através deste material, chegará ao conhecimento de muitas pessoas, que poderão ver um pouco mais das facetas de nossa cultura brasileira.